Sobre a entrevista de Dias da Cunha


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Dias da Cunha não apoia Soares Franco. Ao longo de toda a entrevista (uma excelente entrevista!), Dias da Cunha tentou provar que a alienação de património é um "tremendo disparate" e contou ainda todo o trabalho que estava a ser feito dentro do Sporting por duas entidades bancárias, com vista à resolução dos problemas financeiros. Transcrevemos aqui, as partes que nos parecem mais relevantes:

A BOLA - Não esperava que o dr. Soares Franco quisesse continuar no cargo, candidatando-se em eleições?
DIAS DA CUNHA - Quando o convidei a assumir funções de presidente foi, como disse, numa perspectiva de continuidade, até porque o próprio dr. Soares Franco, depois de curta reflexão, me disse que aceitava substituir-me apenas na condição de tornar imediatamente público que não se candidataria nas eleições para a presidência do Sporting.

A BOLA - Voltemos ao essencial da posição do dr. Soares Franco. Percebe-se que tenha entendido mudar de opinião. Até as circunstâncias da desistência do dr. Ernesto Ferreira da Silva o poderiam ter levado a essa mudança de posição. O que está em causa, tanto quanto entendo, é o facto do dr. Soares Franco ter introduzido a condição da venda do património e da mudança da política do clube em relação às modalidades, o que pode levar ao sacrifício de algumas delas. O que pergunto é se não concorda com as duas condições, ou se o problema essencial é o do património.
DIAS DA CUNHA - Não concordo com ambas as condições, até porque elas estão interligadas no objectivo único de investir fortemente no futebol. Devo dizer-lhe que tudo o que me disponho a referir e a comentar sobre as posições do dr. Soares Franco têm como fundo declarações públicas que foram produzidas e nunca conversas mantidas no Conselho Leonino. Considero que o que se passa no Conselho Leonino deve ficar reservado e não deve ser trazido para a praça pública. Deixando esta questão clara, parto do ponto essencial, levantado pelo dr. Soares Franco ao seu jornal, e no qual afirmava que um clube moderno, como ele acha que deve ser o Sporting, se deve restringir ao futebol. Aliás, o dr. Soares Franco achava, até, e deve lembrar-se disso, que também não avançaria para a presidência do Sporting porque esta sua convicção de que o Sporting deveria ser exclusivamente futebol o incompatibilizaria com velhos amigos e com algumas pessoas do Sporting e ele não desejava isso.

A BOLA - Quer dizer que essa ideia de investir mais no futebol e de ter um clube essencialmente virado para o futebol já não é nova em Soares Franco...
DIAS DA CUNHA - Não é ideia nova, mas agora é retomada nas declarações públicas sobre a necessidade da venda do património, acrescentando já, à ideia inicial da venda da sede e do complexo Alvaláxia, a venda de tudo aquilo que circunda o estádio, desde o multidesportivo passando pelo Holmes Place, até a clínica.

A BOLA - Julgo que é o momento de entrarmos na questão essencial da venda do património. O dr. Soares Franco entende que o peso da dívida do Sporting e o seu passivo são de tal ordem que há que tomar medidas corajosas. O dr. Dias da Cunha acha mesmo que há soluções viáveis e realistas para o futuro do Sporting, sem recorrer à venda do património ?
DIAS DA CUNHA - Com certeza, e é aquilo que toda a equipa de gestão do Sporting conseguiu garantir. O Sporting teve, durante um ano, a trabalhar dentro do clube, os dois bancos que nos têm acompanhado na solução para o futuro. Esses bancos constituíram uma equipa formada por elementos das duas entidades bancárias e que trabalhou com uma outra equipa do Sporting escolhida para o efeito. Foi um processo que nos permitiu reflectir sobre muita coisa e nos levou a ser capazes de fazer contas previsionais para bastantes anos de vista, dez anos pelo menos, que mostraram aos bancos que o Sporting tinha capacidade de libertar, nesse período alargado, os meios financeiros necessários para pagar a sua dívida.

A BOLA - Que se alterou?
DIAS DA CUNHA - Segundo o dr. Soares Franco, duas coisas: que as contas consolidadas para 2005/2006 têm, relativamente àquilo que foi acertado com os bancos, um grande desvio e que isso cria uma situação de tesouraria complicada; e que do acordo com os bancos resulta o compromisso de vender a sede e vender Alvaláxia. Não é verdade.

A BOLA - Mas fará muita diferença para o Sporting a venda, por exemplo, de um complexo sem história como Alvaláxia?
DIAS DA CUNHA - E já pensou o que pode significar a venda em definitivo de Alvaláxia? Admitir que Alvaláxia possa entrar em decadência, porque não se sabe a quem se vende e porque a sua gestão não é nada fácil. Já viu o que é ter, ali em cima do Sporting, um complexo decadente? Devo dizer que a preocupação com Alvaláxia era tão grande que estava negociado, antes de eu sair, o que eu considero ter sido excelente negócio. Para além daquela colocação nos termos já descritos, estava assente e negociado com a entidade que comprou ao Sporting os terrenos onde estava instalado o velho estádio, uma entidade, aliás, especialista na gestão de grandes superfícies comerciais e que vai aí construir um conjunto de prédios de habitação e escritório, estava acordado, como lhe dizia, uma gestão conjunta do espaço e ainda negociado que essa entidade consideraria Alvaláxia como espaço único comercial e disso resultava que o que viesse a construir nas imediações não podia pôr em causa as virtualidades de Alvaláxia. Era um acordo extraordinário e tenho de perguntar: que se passa com esse acordo?; que aconteceu de tão estranho, de Outubro para cá?

A BOLA - Tem alguma ideia que não esteja a revelar?
DIAS DA CUNHA - Não vou especular; sei bem que se especula muito sobre as razões dessa ideia da venda pura e dura. Apenas quero tornar público que esses negócios, a serem pensados como estão hoje, constituem um tremendo disparate e, a concretizarem-se, serão altamente lesivos dos interesses do Sporting.

A BOLA - Mas há quem especule no sentido de dizer que seriam os próprios bancos a exercer pressão para a venda.
DIAS DA CUNHA - Não acredito nisso. Tenho cópia das actas e os bancos aprovaram os negócios que acabei de descrever. E não vejo razão nenhuma para aquilo que esteve na base dos acordos assinados pelos bancos tivesse sido alterado. Os bancos são racionais e um Sporting mais pobre, como este que propõem, agora, não serve os bancos. E é precisamente isso que eu também não quero. Não quero um Sporting mais pobre.

retirado de abola.pt

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