Entrevista a Ribeiro Telles



Finalmente Ribeiro Telles falou. Aquele que muitos consideram o grande desequilibrador desta saga eleitoral, deu uma entrevista ao Record, considerando que a venda é necessária e que não imagina outra forma de reduzir o passivo. Uma vez que o seu tamanho é reduzido, fica aqui a transcrição integral da dita entrevista:

Record– Concorda com as propostas de Soares Franco no que se refere à venda de património?
Ribeiro Teles– Concordo. Ao tomar conhecimento das propostas dele, que é um gestor com provas dadas e enorme experiência na recuperação de empresas em dificuldades, tive o cuidado de ouvir pessoas ligadas à área financeira, que reputo como muito qualificadas, procurando recolher o máximo de informação. Embora já tenha assumido funções de gestão em empresas, a minha formação é jurídica.

R – A que conclusões chegou?
RT – As operações visam reduzir o passivo através, entre outras, da venda de património não afecto à actividade desportiva, um aspecto crucial, e que não existia antes do “Projecto Roquette”. Com as mais-valias inerentes, a redução do passivo e a diminuição dos encargos, o Sporting poderá continuar a honrar compromissos com os bancos que, não esqueçamos, ajudaram a construir estádio e Academia e, simultaneamente, ganhar “músculo” para manter o futebol num grau compatível com a sua dimensão. Apesar do ruído, o passivo do Sporting é inferior ao do Benfica e a maior parte do património que seria vendido é formado por produtos imobiliários que os outros clubes não têm.

R – Haverá um desvio em relação ao “Projecto Roquette”?
RT – As medidas constituem uma correcção a linhas gerais desse projecto. Mas importante é que o passivo seja trazido para valores comportáveis e que a autorização para a venda não abranja património desportivo. Por outro lado, ainda não consegui entender como é que se gere este passivo sem estas medidas. Não basta estar contra. É preciso explicar como se resolvem os problemas. Outra questão é saber se se trata de venda “pura e dura” como a tem qualificado Dias da Cunha, ou de uma venda com opção, e apenas opção, de recompra. Ao que me dizem, as condições para um cenário de recompra seriam mais gravosas para o clube, além de o deixarem muito exposto ao mercado imobiliário.

R –O “Project-Finance” previa equilíbrio nesta altura...
RT –Eu não exercia nenhum cargo quando a restruturação foi assinada, mas quer o Presidente quer o líder do Conselho Fiscal têm vindo a dizer que existe um desvio em relação ao orçamentado de cerca de 16,8 milhões de euros, que resulta de não se ter vendido, de uma forma ou de outra, o edifício-sede, de não se ter ido à Champions e de se ter gasto mais do que o previsto em aquisições. Isto implica que a questão tenha de ser reequacionada. No entanto, nunca ouvi nem Soares Franco nem Ferreira da Silva invocarem problemas com as contas relativas a 04/05, também elas aprovadas, auditadas e publicadas. Ao que me dizem, a única questão que remanesce é que na execução dos orçamentos de 05/06 se terão verificado aqueles desvios, mas não se pode falar em buraco. Aliás, no futebol é tudo aleatório e dependente de muitas variáveis. Medidas tomadas num exercício só se reflectem 2 ou 3 anos depois.

R –Nesse contexto, Dias da Cunha acusa Soares Franco de ter dado uma volta de 180 graus.
RT –Depois de suceder a Luís Duque, trabalhei mais directamente com Dias da Cunha. Recebi dele provas de solidariedade inesquecíveis, que me marcaram. Tive o privilégio de com ele, com Eduardo Bettencourt e restante administração colaborar na elaboração das propostas apresentadas para regenerar o futebol português, medidas actuais e cada vez mais necessárias. Formámos uma equipa que muito beneficiou da sua inteligência. Até quando divergimos, por ocasião da minha demissão, falámos frontalmente, sem esconder nada um do outro. Porém, em relação à decisão de Soares Franco há um dado que não pode ser esquecido. Segundo foi tornado público, quer por Soares Franco quer por Dias da Cunha, eles teriam acordado que seria Ferreira da Silva o candidato. Este constatou mais tarde que não podia, por razões profissionais, avançar. De acordo com o que Soares Franco disse na SIC, esse foi um factor decisivo para a sua opção.

“Estou satisfeito com o futebol, não só pelo espírito revelado pelo Paulo Bento, pelo Carlos Freitas ou pela equipa principal. Há uns anos, a SAD definiu um modelo organizativo no qual a formação deveria ser o principal fornecedor da equipa principal, os escalões jovens deveriam ser competitivos e imbuídos daquilo que se denominou de 'cultura Sporting' e em que o clube formasse também homens preparados para a vida. Esses três objectivos têm vindo a ser atingidos de forma espectacular, a Academia funciona em pleno. Por isso choca-me ouvir dizer que Paulo Bento é para manter mas que é preciso mudar coisas no futebol. Ajustes talvez, até porque Manolo Vidal fará falta neste momento. Mas, com estes resultados, mudar substancialmente o quê? Devemos reconhecer o grande trabalho em prol do clube de homens como Pedro Mil-homens, José Manuel Torcato, Jean Paul, Aurélio Pereira, Mário Lino, etc...”

“Não estou preocupado com cargos. Já me chamaram mentor do projecto. Como se Soares Franco precisasse... Tenho-me limitado a ajudar no futebol, porque me comprometi quando ele assumiu o cargo. Se a AG permitir a execução do projecto, terá o meu apoio. Os apoios de Vaz Guedes, Filipe de Botton, Horta e Costa, José Maria Ricciardi, Couto dos Santos, José Roquette, Galvão Teles, Ferreira da Silva, Salema Garção e, ao que julgo, João Lagos e João Rocha, permitem pensar que não será difícil a Soares Franco formar uma lista de enorme valia. Mas não tenho ambição pessoal a esse nível.”

Retirado de Record.pt

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